
Antropóloga especialista em violência contra a mulher, Beatriz Accioly Lins afirma que toda essa comoção em torno do compartilhamento de nudes só existe por uma questão de gênero: as “polêmicas” que envolvem as fotos atacam, em sua maioria, as mulheres, e demonstram que ainda não é permitido a elas que exerçam livremente sua sexualidade. “A nudez feminina faz parte de uma intimidade que tem que ser guardada. Se não seguir isso, é moralmente condenada”, diz.
O tema é a base de sua tese de doutorado pela USP (Universidade de São Paulo), “Caiu na Rede: Mulheres, Tecnologias e Direitos Entre Nudes e (Possíveis) Vazamentos”. No trabalho, que levou quatro anos de pesquisa, ela discute a relação das fotos íntimas com a liberdade sexual feminina, a moralidade e a violência digital, além da evolução da legislação envolvendo o crime de vazamento de imagens. Também mostra histórias de mulheres que foram duramente condenadas por familiares por enviarem imagens eróticas: mães cujos filhos se afastaram após verem suas nudes e uma mulher que viu seu companheiro pedir a separação depois de receber fotos vazadas dela.
O que popularmente chamamos de vazamento de nudes é considerado crime, com pena de um a cinco anos de prisão. A Lei 13.718, de setembro de 2018, prevê como prática criminosa “dispoinibilizar, transmitir […], distribuir, publicar ou divulgar fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha […], sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia”.