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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Liberação de arquivos dos escoteiros revela décadas de abusos nos EUA

Em 20 anos, mais de mil integrantes foram acusados, mostram documentos.
 
Promotor de Portland examina alguns dos documentos divulgados sobre casos de abuso sexual envolvendo escoteiros
Foto: AP

PORTLAND, Oregon - Em agosto de 1981, o pai de três escoteiros no Colorado escreveu desesperado para o supervisor do grupo: um dos líderes, identificado apenas como Joe, havia abusado sexualmente de meninos de sua tropa, incluindo os filhos do autor da carta, e o homem continuava a ter contato com os garotos.
“Sua garantia de que Joe estava fora do escotismo e que não teria mais contato (com as tropas) se revelou sem fundamento”, escreveu. “Vocês se importam com meu desespero ao vê-lo de volta?”
Pedidos de desculpas e recriminações sobre como os Escoteiros da América vigiaram seus líderes e outros voluntários contra predadores sexuais - e como frequentemente falharam - ecoam pelas milhares de páginas de documentos internos, arquivos policiais e notícias de jornais liberados nesta quinta-feira após uma longa batalha judicial.
Juntos, os arquivos cobrem um período de 20 anos em vários estados americanos, durante os quais 1.247 homens foram acusados de cometerem abusos sexuais entre 1965 e 1985, frequentemente com várias vítimas. A liberação dos arquivos cria, pela primeira vez, um banco de dados público sobre acusações específicas de abuso.
Algumas vezes, a linguagem usada sugere líderes que pareciam estar protegendo a organização ou seguindo a crença - que muitos podem ver como ingenuidade - de achar que um homem que admitiu seus erros cometidos com meninos merece uma segunda chance.
“Ele reconhece ter um problema e está pessoalmente adotando medidas para resolver a situação”, disse um escoteiro de alto posto em um memorando de agosto de 1972 sobre um líder que, uma semana antes, admitira “atos de perversão com vários membros da tropa”. “Gostaria de arquivar esse caso”, escreveu o executivo. “Minha opinião pessoal nessa caso em particular é se não está fedendo, não mexa.”
Mais de 1.200 arquivos colocados online
Nunca foi fácil identificar um pedófilo antes que danos sejam causados. Não há um perfil específico, com exceção do desejo de usar posições de poder para manipular suas vítimas, disse um professor de psiquiatria que analisou arquivos dos escoteiros a pedido da organização.
- Nós definitivamente falhamos, e por isso temos que nos desculpar com as vítimas e os pais - disse Wayne Perry, presidente dos Escoteiros da América.
Os “arquivos de perversão”, como são chamados, tiveram um papel central num caso de 2010 sobre o abuso de seis meninos por um líder de tropa em Portland, nos anos 80. O juiz determinou que, como eram provas, os documentos deveriam ser liberados ao público, de acordo com a Constituição do Oregon - uma decisão mantida este ano pela Suprema Corte estadual. Nesta quinta-feira, mais de 1.200 arquivos foram disponibilizados online.
Os documentos não sugerem que o escotismo estava povoado por perseguidores sexuais. Alguns memorandos internos discutem a luta para ser justo quando era difícil encontrar provas. Outros descrevem horrores psicológicos como o caso de um líder que, de acordo com o relato de um menino de 10 anos à polícia, falou sobre as virtudes do escotismo enquanto deslizava a mão por dentro da calça do garoto.
Os Escoteiros eram contrários à publicação dos arquivos, argumentando que a abertura de documentos confidenciais ao público poderia invadir a privacidade das vítimas.
- Era uma época diferente - disse Perry. - Era uma época em que as pessoas achavam, a comunidade médica achava, que havia um potencial para a reabilitação.